Depois de um dia inteiro ouvindo falar da ressaca, decidi ir ao encontro dela para registrar o fato. Mesmo com o auge no dia anterior, queria fotografá-la. Cheguei lá, preparei a câmera para começar a fotografar o surf e, de repente, me deparei com um surfista contemplando o mar e seus perigos.
Logo após, iniciei o registro do objeto do dia. Onda vinha, onda ia, meu disparador não parava. Mesmo com algumas dificuldades técnicas ocasionadas pela minha “menina”, ela colaborou ajudando bastante na hora de captar os momentos incríveis que presenciei.
Um menino me chamou a atenção. Com jeito de moleque levado e sem muito medo do mar, que naquele ponto tem fundo pedregoso, ele encarava as ondas, furando, passando por cima delas ou simplesmente tomando um caixote. Podia acontecer o que fosse, não arredava pé de querer uma boa onda. Chegou ao fundo e passou a esperar sua vez de pegar a sua. Como seu tamanho não impunha respeito aos colegas de prancha, ele ficou à deriva, esperando em vão o momento para, num golpe de sorte, entrar na onda. Depois de muito esperar e o mar mudar, ele percebeu a alteração e se movimentou. Veio para perto da arrebentação, como que iria desistir. Felizmente se manteve firme e forte. Vinha uma e ele pegava, vinha outra e ele surfava. Chegava a terceira e ele não bobeava. Por fim, ele não deixou barato. Os marmanjos ficaram para trás e ele curtindo as ondas da liberdade que não pode esperar.
Logo pensei: ele não deveria ensinar ao marmanjos os segredos do surf, pois não sabe. Aquele pequeno moleque, chamado Danilo, morador do Morro do Estado, tem de ensiná-los outras coisas. Afinal, como diziam G. Guarnieri e E. Lobo:
“Capoeira!
Posso ensinar
Ziquizira!
Posso tirar
Valentia!
Posso emprestar
Mas liberdade
Só posso esperar...”
Depois dessa sessão fotográfica, resolvi radicalizar também.